
Nos últimos dias, Boa Vista tem sido impactada por chuvas intensas, com um acumulado de 469,2 mm até agora em julho, conforme o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden). Esse volume excede a média histórica do mês, que é de 308 mm, segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet).
O incremento das chuvas também elevou o nível do rio Branco, que alcançou 7,87 metros, a apenas 13 centímetros da cota de alerta, estabelecida em 8 metros, de acordo com a Companhia de Águas e Esgotos de Roraima (CAER).
Essas condições têm gerado problemas no escoamento das águas na capital, resultando em acúmulos em regiões específicas, especialmente nas proximidades de lagoas. O prefeito Arthur Henrique enfatizou a atuação da Patrulha da Chuva: “Nossas equipes estão em campo, desobstruindo canais e monitorando pontos críticos para suportar a população e reduzir os impactos das chuvas”, declarou.
Flávia Cantanhede, da Defesa Civil do Município, alertou que novas chuvas podem trazer acumulados adicionais de até 150 mm nas próximas semanas. “Essa previsão é alarmante. Se concretizada, pode elevar ainda mais o nível do rio Branco e provocar transbordamentos”, acrescentou.
Rios e igarapés cheios dificultam o escoamento das chuvas
O assessor técnico da Secretaria Municipal de Meio Ambiente (SEMMA) e especialista em Recursos Naturais, Luis Felipe, destacou que Boa Vista enfrenta um cenário de transição climática. Ele explicou que o fenômeno El Niño está em declínio e o La Niña começará a influenciar o clima local em julho e agosto, trazendo chuvas mais intensas e possível queda de temperatura.
O especialista também indicou que o alagamento na cidade é resultado de fatores naturais, antrópicos e mudanças climáticas. Boa Vista, localizada em uma área de relevo plano, enfrenta dificuldades na absorção da água devido ao solo muitas vezes encharcado e à proximidade do lençol freático. “Quando ocorrem chuvas intensas em um curto período, o solo não consegue absorver toda a água e isso resulta em alagamentos, principalmente em áreas mais baixas”, explicou.
Fatores naturais exacerbam o problema
A cidade está inserida em uma região conhecida como pediplano do rio Branco, onde o clima equatorial favorece chuvas intensas entre abril e agosto. Nessas situações, o volume de água pode ultrapassar a capacidade de drenagem dos rios e igarapés. “Boa Vista tem uma geografia peculiar. Muitas áreas são onde já existiram lagoas ou igarapés. O solo nessas regiões tende a saturar rapidamente, resultando em alagamentos, mesmo após poucas horas de chuvas contínuas”, detalhou Luis Felipe.
Problemas gerados pela ação humana
A interferência humana agrava ainda mais a situação. O descarte inadequado de lixo em bueiros e canais bloqueia o escoamento das águas pluviais. Somente nesta segunda-feira, foram retiradas cerca de 400 toneladas de resíduos do sistema de drenagem e das ruas.
Luis Felipe destacou que as ocupações irregulares em áreas de lagoas e igarapés prejudicam o fluxo natural da água. “Construir sobre áreas alagadiças ou eliminar a vegetação ciliar desorganiza o escoamento. O que antes era uma área de retenção de água se torna um obstáculo, e a água busca novos caminhos, invadindo ruas e habitações”, enfatizou.
Iniciativas da prefeitura para minimizar os alagamentos
A Prefeitura de Boa Vista já resolveu 36 pontos críticos de alagamentos em 21 bairros, como 13 de Setembro, Centro, Asa Branca e Cidade Satélite. Ao todo, a gestão já executou quase 48 km de drenagem e está ampliando a rede, o que permitirá um escoamento mais eficiente da água.
“Estamos continuamente mapeando a cidade, identificando e intervindo nos pontos críticos. Com obras de drenagem em andamento e recursos garantidos, pretendemos implementar melhorias ainda mais significativas em vários bairros, visando minimizar os impactos das chuvas para a população”, finalizou o prefeito Arthur Henrique.