Polícia Civil Descreve “Cenário de Guerra” Durante Operação Contenção no Rio de Janeiro
A Polícia Civil do Rio de Janeiro apresentou à Justiça um relatório detalhando as condições extremas enfrentadas durante a Operação Contenção, realizada em 28 de outubro. A operação, destinada ao cumprimento de mandados de prisão contra indivíduos ligados ao Comando Vermelho, resultou em 121 mortos e foi caracterizada pela própria corporação como ocorrida em um “cenário de guerra”.
Relatório Circunstanciado e Contexto da Ação
O documento, classificado como relatório circunstanciado, foi encaminhado à 42ª Vara Criminal da Capital, responsável pela emissão dos mandados que fundamentaram a operação. Nele, a polícia estabelece claramente a intensidade do ambiente confrontado. “Cumpre salientar, preliminarmente, que a ação deflagrada se deu em um cenário de guerra e alta complexidade operacional, conforme amplamente divulgado pela mídia”, destaca o relatório, reforçando a narrativa de um ambiente hostil e controlado por facções criminosas.
Dificuldades Operacionais e Interrupção das Atividades
O relatório detalha as severas dificuldades que comprometeram o cumprimento dos objetivos planejados. Segundo a Polícia Civil, o trabalho para executar os mandados de prisão e de busca e apreensão foi drasticamente interrompido devido ao “intenso tiroteio”. As equipes policiais relataram ter sido atacadas simultaneamente em múltiplos pontos, impedindo que todos os alvos fossem localizados e abordados como previsto. A intensidade dos ataques forçou uma mudança de rota operacional. “Diversas equipes precisaram deixar a comunidade em razão de prisões em flagrante delito e apreensões diversas, o que ensejou uma mudança de planejamento para assegurar a integridade das equipes que permaneceram no teatro de operações”, afirma o documento, ilustrando a natureza reativa e defensiva que a operação adquiriu.
Balanço Parcial dos Resultados Obtidos
Apesar das adversidades, a operação logrou capturar alguns objetivos. A Polícia Civil anexou ao relatório uma lista com sete endereços específicos onde ocorreram prisões ou apreensões de materiais ilícitos. Nesses locais, foram encontrados drogas, insumos para fabricação de entorpecentes, telefones celulares, cadernos com anotações e computadores, elementos que apontam para a estruturação e logística da organização criminosa.
Locais Não Atendidos e Motivos
No entanto, o relatório também expõe o significativo número de mandados não cumpridos. Em 27 dos alvos, a situação variou: os indivíduos procurados não foram encontrados, nada de ilícito foi localizado, ou os locais não puderam ser acessados devido à instabilidade do terreno gerada pelos constantes tiroteios. “Os demais objetivos restaram prejudicados no cumprimento dos mandados, tendo em vista que o terreno se encontrava muito instável, com diversas equipes policiais sendo atacadas simultaneamente, resultando na morte de policiais, bem como no ferimento de diversos níveis de gravidade”, completa o relatório, vinculado diretamente as falhas no cumprimento das ordens judiciais à violência extrema enfrentada.
Envolvimento do Supremo Tribunal Federal (STF)
O relatório sobre a Operação Contenção não foi apenas destinado à vara que autorizou a ação. Uma cópia foi também encaminhada ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). A remessa ocorre no contexto do processo conhecido como ADPF das Favelas (Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental nº 635), do qual Moraes é o relator temporário. Nesse processo, a Corte já havia determinado diversas medidas visando à redução da letalidade durante operações policiais em comunidades cariocas. O envio do documento pelo Rio à Presidência do STF demonstra a relevância atribuída à operação e seu impacto pelo poder judiciário superior.
Escopo e Dados da Operação Contenção
A Operação Contenção, uma ação conjunta das Polícias Civil e Militar do Rio de Janeiro, representa um dos eventos mais graves da segurança pública recente no estado. Com um efetivo mobilizado de 2.500 policiais, ela é descrita como a maior e mais letal operação realizada no Rio nos últimos 15 anos. Além das 121 vítimas fatais – quatro delas policiais –, a ação resultou na prisão de 113 indivíduos, sendo 33 detidos originários de outros estados. O volume de apreensões foi significativo: 118 armas de fogo e aproximadamente 1 tonelada de drogas. O objetivo declarado era conter o avanço do Comando Vermelho e cumprir um total de 280 mandados, sendo 180 de busca e apreensão e 100 de prisão. Desses últimos, 30 foram expedidos pela Justiça do Pará, indicando a dimensão interestadual da ação criminosa alvo da operação. O relatório da Polícia Civil, ao descrever as condições de “guerra” enfrentadas, fornece um contexto fundamental para a compreensão das proporções e dos desafios inerentes a uma operação de tal magnitude em um ambiente de conflito urbio intenso.






